quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

O Necromante - Prólogo



Era meia noite quando olhei as horas pela última vez, no relógio da estação. Desde então, já devem ter se passado umas duas horas enquanto atravessávamos toda a área leste da cidade, seguindo o rastro deixado por Donovam.

Hoje, dia 5 de maio de 1912, faz cinco anos desde aquele maldito dia, mas agora minha busca vai acabar. Hoje Donovam e todo seu legado de maldade chegarão ao fim.
Ando agora sozinho pelas vielas que se formam entre as caixas empilhadas neste porto. O silencio só é cortado pelo som do mar, nenhuma pessoa trabalha aqui agora. Com certeza os funcionários já estão mortos. Carter, meu companheiro, ficou lá trás, na entrada da zona portuária lutando contra varias monstruosidades criadas pelo Necromante, para que eu pudesse seguir em frente. Que Deus olhe por ele.
Meus olhos e ouvidos estão sempre atentos. Estes caminhos estão cheios de perigo. Desde que chegamos à cidade temos enfrentado hordas de mortos-vivos e agora que estou tão perto, Donovam não poupará esforços para impedir meu avanço.
Ouço som de passos sobre as caixas e quando dirijo meu olhar, posso ver a silhueta de quatro criaturas se esgueirando nas sombras. Pelo tamanho já identifiquei que são cães, Donovam adora transformar estes pobres animais em seus brinquedos.
Preparo-me para correr. Poderia acertá-los facilmente a esta distancia. Um tiro em cada um e estaria acabado. Mas já gastei balas demais e agora só me restam quatro ou cinco. Não posso desperdiçá-las com estes cães. Não se quiser matar Donovam. Só me resta matá-los com minha espada, mas ela está embrulhada e presa em minhas costas. Preciso ganhar tempo e espaço para sacá-la.
Começo a correr e os malditos cachorros vêm em meu encalço. São cinco, agora posso ver.
Enquanto corro, solto as fivelas que prendem a “Grande” (é como chamo a espada). Já foi mais fácil fazer isto quando era jovem, mas agora começo a sentir o peso dos anos. Os cães se aproximam no momento que seguro uma ponta da faixa e, com um movimento, a espada gira no ar e cai a alguns metros de mim. Já treinei esta manobra centenas de vezes. Um cão abre a boca para me morder,eu salto,giro sobre uma mão e com a outra apanho a espada, giro e corto o monstro no ar. Mais alguns segundos e outro cai.
Por um descuido, um consegue morder minha mão e a espada cai. Um grande mastim salta sobre mim e eu vou ao chão. Com a mão esquerda busco em minha cintura a adaga e cravo na garganta do cachorro, aniquilando-o.
Um grande pastor tenta morder minha perna. Com um chute consigo jogá-lo longe. O outro cão salta, então eu desvio e acerto seu flanco matando-o. O ultimo está se recuperando do chute,mas antes que ele possa me atacar eu lanço minha adaga e acabo com ele.
Então uso a faixa que cobria a espada e faço um curativo na ferida em meu braço. Com outro pedaço limpo minha espada e adaga.
Agora volto a seguir meu curso com a espada em punho. Deixar o cão me morder foi um erro terrível. Esperava estar completamente preparado para enfrentar Donovam.
Após andar mais alguns minutos na direção do navio cargueiro que balança suavemente com a maré da lua cheia, posso avistar uma figura de um homem aguardando minha chegada. Sei que se trata de mais um zumbi criado pela maldita bruxaria do necromante pelo seu balançar vacilante.
Seguro a espada em posição de batalha e me aproximo. O zumbi usa um uniforme de marinheiro e carrega um machado na mão esquerda. Pobre coitado... Era um homem de meia idade e aparentava ser forte e saudável em vida. Provavelmente foi pego de surpresa pelo bruxo enquanto aguardava seu turno passar.
Ele avança. Surpreendentemente ele é mais ágil do que qualquer outro que já enfrentei. A bruxaria de Donovam está se refinando. Esquivo para o lado como um toureiro esquiva de um touro. O zumbi freia seu avanço e volta a me atacar com o machado. Mais uma vez consigo me esquivar e com outro movimento corto sua perna esquerda. Mesmo caído ele continua tentando me atacar. Mas ele já perdeu a batalha e eu corto sua cabeça com a espada. Não sei quantas criaturas destras já destruí nestes anos, mas ainda sinto uma dor no peito mesmo sabendo que já não são humanos.
Sigo em direção ao navio e passo do porto para o convés. Consigo reparar que no chão há uma pilha de morcegos mortos. Talvez mais um truque do Necromante. Ando alguns passo e vejo o bruxo próximo à cabine.
-Ora vejam só quem chegou para festa, meu velho amigo Julius.
-Como ousa ainda me chamar de amigo. Prepare-se para seu fim maldito!
Sou eu quem começa o combate. Corro em sua direção e o golpeio com a espada, mas ele defende usando seu cajado. Ele tenta contra atacar usando a ponta inferior de seu nojento cajado, uma lamina afiada. Um ferimento desta arma imunda e eu sucumbiria a seu asqueroso feitiço. Consigo desviar e tento outro golpe ,mas ele é rápido e também desvia. Nossa luta se estende na noite. O ferimento no braço me deixa em desvantagem mas minha determinação supera qualquer dor. Preciso destruir o necromante, por mim e pelo mundo, antes que ele complete sua transformação em Linch.
Donovam erra um golpe e então eu encontro uma brecha, mas quando vou desferir o golpe certeiro, o bruxo toca com seu cajado na pilha de morcegos no chão e as criaturas voam em minha direção, me mordendo e arranhando com suas unhas.Deixo então deixo cair a espada. Entre a nuvem de morcegos, consigo ver Donovam se preparando para me acertar com a ponta do cajado. Deste infeliz não se pode esperar uma luta justa. Em um movimento rápido saco meu revolver e atiro entre os morcegos. A bala acerta o ombro do bruxo e a nuvem de morcegos se dispersa.
Miro novamente em direção a Donovam para mais um tiro.
-Hoje acabam seus dias de terror.
-Ainda não será desta vez nosso confronto final, querido Julius. Mas o dia chegará.
Atiro mais uma vez, mas a bala pega de raspão pois ele salta no mar. Corro para a amurada e vejo que ele caiu sobre uma orca, outra criatura vitima se seu feitiço. Ele entra em sua boca do animal e submerge nas águas.
-Maldito volte aqui, ainda não acabei com você!!!
De repente ouço um barulho vindo do porão e o navio começa a tremer e chacoalhar.Com um forte impacto as tabuas do piso são quebradas e eu sou jogado longe. Uma criatura monstruosa se levanta sob o convés. Uma Aberração, como costumo chamar este tipo de criação do bruxo.Com partes de seres humanos e outros animais unidos em um só corpo, a coisa tem uns três metros de altura e é como um pesadelo vivo. Um único grande olho na testa e uma enorme boca cheia de dentes caninos. O monstro arranca uma tabua do navio e se prepara para me acertar.
Ainda caído no chão eu miro em seu olho e atiro. A criatura se contorce e ruge, mais em poucos segundos se prepara para me acertar novamente. Depois de tanto tempo enfrentando o necromante eu sei que o olho grande e visível na criatura não é o único.Com certeza ele possui vários olhos de mosca espalhados pelo corpo. Atiro novamente e ele se contorce outra vez, outro tiro e de novo um rugido. Agora não me resta mais balas. Será o meu fim?
Bang! Outro tiro acerta a coisa. Bang! Mais um. Meu amigo Carter sobe no convés.
-Não sei o que seria de você sem mim. – Carter debocha enquanto carrega mais uma vez sua escopeta.
-Obrigado, mais uma vez amigo.
Bang!Bang!Carter atira outra vez e o urro da Aberração ecoa no porto. Carter tira da sua bolsa presa a cintura um artefato e arremessa contra o monstro. Uma bomba incendiaria, criação própria. O monstro se torna uma imensa fogueira se debatendo e espalhando fogo no navio.
Eu recolho a espado e nós saímos do navio que se incendeia e afunda.
-Ele escapou Carter. O desgraçado fugiu mais uma vez.
-O pegaremos logo Julius.Com certeza o pegaremos. Mas agora é hora de recuperarmos nossas forças.
Mais uma vez o Necromante escapou. O mundo ainda não pode dormir tranquilo livre de sua maldição. Mais eu nunca descansarei até o dia de sua morte. Não posso descansar.  









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